Ao frequentar um restaurante e examinar a carta de vinhos, você já deve ter observado que os vinhos ficam separados por seções como Espumantes, Brancos, Rosés e Tintos. Já deve ter percebido também em alguns rótulos as inscrições Vinho Seco e Vinho Suave. Você sabe por quê cada um deles recebe essas classificações? Não? Então vamos entender porque a composição de um vinho gera esses diferentes nomes.
Quanto à classe (vinho de mesa x vinho fino)
O vinho de mesa é o vinho feito com uvas de espécies americanas como a Vitis labrusca e a Vitis riparia. São os famosos vinhos de garrafão, de qualidade inferior. Já o vinho fino, é um vinho feito com uvas da espécie euroasiática Vitis vinifera. As variedades como Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay são todas da espécie Vitis vinifera.
Quanto às características de qualidade do vinho (Reservado, Reserva e Gran Reserva)
Baseado na iniciativa espanhola, o Brasil, a partir de 2018, editou uma Instrução Normativa estabelecendo os padrões de qualidade para os seus vinhos, definindo o tempo de amadurecimento dos mesmos antes de serem comercializados.
O Reservado trata-se de um vinho jovem, pronto para o consumo, com teor alcoólico mínimo de 10%.
O Reserva trata-se de um vinho com no mínimo de 11% de álcool, que envelheceu por um tempo mínimo, sendo facultada a utilização de recipientes de madeira. O tempo mínimo para tintos é de 12 meses. O tempo mínimo para brancos e rosados é de 6 meses.
O Gran Reserva tinto trata-se de um vinho com no mínimo de 11% de álcool e que envelheceu por um tempo mínimo de 18 meses, sendo obrigatória a utilização de recipientes de madeira apropriada de no máximo 600L de capacidade pelo tempo mínimo de 6 meses. E no Gran Reserva branco ou rosado, o tempo mínimo de envelhecimento é de 12 meses, sendo obrigatória a utilização de recipientes de madeira apropriada de no máximo 600L de capacidade pelo tempo mínimo de 3 meses.
Quanto à cor (branco, rosé, tinto e laranja)
A principal classificação dos vinhos refere-se à cor que o vinho apresenta. Sendo assim, quando o vinho apresenta cores dentro do espectro do vermelho, podendo ir do vermelho-púrpura ao vermelho-acastanhado, ele é chamado de vinho tinto. Já o vinho branco apresenta cores dentro do espectro do amarelo, podendo ir do amarelo-palha ao amarelo-âmbar. E o rosé, ou rosado, é um vinho com cores que estão próximas ao espectro do rosa, podendo ir do casca de cebola ao clarete, passando pelo rosa e pelo salmão.
Existe também um vinho que atualmente está cada vez mais ganhando espaço, o vinho laranja. Esse vinho nada mais é que um vinho feito de uvas brancas em que o mosto fica em contato com as cascas das uvas por um período prolongado. Esse processo é chamado de maceração pelicular.
Curiosidade: Normalmente os vinhos brancos são elaborados a partir de uvas brancas e os vinhos tintos a partir de uvas tintas. Mas também existem vinhos brancos elaborados com uvas tintas. Isso é possível porque os pigmentos das uvas tintas, salvo raras exceções, estão presentes somente na casca das uvas e não na polpa. Logo para se elaborar vinhos brancos com uvas tintas é só não utilizar as cascas no processo.
Outra curiosidade: Quando você encontrar em um rótulo a inscrição Vinho Verde, isso não tem nada a ver com a cor do vinho, já que podemos encontrar este tipo de vinho na cor branco, rosé ou tinto. O termo Vinho Verde se refere à região de Portugal onde o mesmo foi produzido, a famosa região dos Vinhos Verdes.
Quanto à presença de gás carbônico (espumante x frisante x tranquilo)
Os espumantes são vinhos que possuem grande quantidade de gás carbônico. Neles o gás carbônico é obtido sempre de forma natural. Alguns exemplos de espumantes são os famosos Champagne, Prosecco e Cava.
Os frisantes são vinhos que também possuem gás carbônico, mas em menor quantidade que os espumantes. Nesse caso o gás carbônico pode ser obtido naturalmente ou adicionado artificialmente. Portanto, quando servidos na taça, vão produzir menos espuma. O exemplo mais conhecido de frisante é o Lambrusco.
Os vinhos carbonatados, são vinhos que receberam a adição de gás carbônico de forma artificial e que podem ter a pressão maior que a de um frisante, mas sempre menor que a de um espumante.
Os vinhos sem gás carbônico são chamados de vinhos tranquilos.
Curiosidade: O espumante Moscatel é um caso particular. É um espumante feito com o teor alcoólico baixo, é doce e sempre feito com a uva Moscatel.
Quanto às castas utilizadas (varietal x corte ou blend)
As castas ou cepas são as variedades de uvas existentes que compõem os vinhos. Alguns exemplos de castas são: Malbec, Merlot e Chardonnay. Dito isso, podemos afirmar que existem dois tipos de vinho quanto às castas, o varietal e o de corte. Mas o que é isso?
Um vinho varietal ou monovarietal ou monocasta é aquele que possui em sua composição a predominância de uma única casta. No Brasil, no Chile e no EUA por exemplo, para um vinho ser varietal e levar o nome de uma casta no rótulo ele deve conter no mínimo 75% dela. Por outro lado, os vinhos de corte (ou ainda de lote, ou blend, ou assemblage) são vinhos com uma mistura de dois ou mais tipos de castas em que não há grande predominância de uma delas.
Curiosidade: Vale ressaltar que cada país tem a sua legislação e os valores percentuais podem sofrer alguma alteração. Por exemplo, se você ver Cabernet Franc em um rótulo de vinho argentino, saiba que aquele vinho tem ao menos 80% dessa variedade em sua composição. Enquanto que se o vinho for brasileiro, chileno ou norte-americano como vimos anteriormente, o mesmo terá no mínimo 75% de Cabernet Franc. Já para os principais países da Europa como França, Itália, Alemanha e Portugal esse percentual é de 85%.
Outra curiosidade: Em uma concepção mais moderna, produtores estão chamando de vinhos de blend ou assemblage vinhos que possuem uma só casta, mas proveniente de vinhedos diferentes. Por exemplo, existem vinhos argentinos que são 100% Malbec, tem no rótulo o nome da casta, mas é um corte de Malbec do vinhedo X a 1.000 metros de altura e do vinhedo Y a 1.500 metros de altura.
Quanto ao teor alcoólico (leve x fino x nobre x licoroso)
No Brasil um vinho com teor alcoólico compreendido entre 7 e 8,5% é chamado de vinho leve. Os vinhos de mesa e fino, tem teor alcoólico entre 8,6 e 14%. Uma nova classificação instituída pela Instrução Normativa nº 14 de 2018 é a dos vinhos nobres. O Vinho Nobre é o vinho feito com uvas da espécie Vitis vinifera com teor alcoólico entre 14,1 e 16%. Existe também o Vinho Licoroso, que é o vinho com teor alcoólico entre 14 e 18% mas que pode ter a adição de álcool, sacarose, mistela ou mosto concentrado para alteração do teor alcoólico, e ainda caramelo para a correção da cor.
Curiosidade: Um vinho licoroso não é necessariamente um vinho fortificado. Um vinho fortificado, um tipo de vinho mundialmente conhecido, é um vinho que recebeu a adição extra de álcool. O álcool presente na sua composição, não provém unicamente do processo de fermentação realizado durante a sua produção. Alguns exemplos são o Vinho do Porto, o Vinho Madeira e o Jerez. O álcool adicionado deve sempre ser obtido da matéria-prima uva.
Quanto às safras (safrado x não-safrado)
Um vinho pode ser safrado ou vintage, levando o ano da safra no rótulo, quando é produzido com no mínimo 85% de uvas daquela mesma safra. Quando houver mistura de uvas de diferentes safras, não havendo a prevalência mínima de 85% de uvas de uma única safra, o vinho será chamado de não-safrado, ou non vintage, ou ainda pela abreviação NV. Um blend de safras.
A grande maioria dos Vinhos do Porto e Espumantes são NV, mas esse assunto merece um artigo exclusivo.
Quanto ao teor de açúcar (seco x meio-seco x suave ou doce)
Os vinhos leve, de mesa e fino serão chamados de vinho seco quando possuírem um teor de 0 a 4 g/l (gramas/litro) de açúcar. O meio-seco acima de 4 g/l e até 25 g/l. E o vinho suave ou doce acima de 25 g/l e até 80 g/l.
O vinho licoroso tem uma classificação à parte, no qual a denominação seco, é para vinhos com teor de até 20 g/l de açúcar e doce quando o teor é acima de 20 g/l.
A classificação para os espumantes quanto ao teor de açúcar é bem especial e vale ser abordada em um artigo exclusivo para esses tipos de vinho.
Bom, espero que com esse artigo você tenha entendido as classificações básicas que originam alguns diferentes tipos de vinho e que assim possa facilitar as suas escolhas ao se deparar com uma carta de vinhos, ou ainda na hora de escolher uma garrafa no supermercado. Até a próxima e saúde!
Jorge Silva Junior