Enologia: A história começa onde termina

Fiz mais uma curadoria na Confra-Rio Zona Sul. Para este encontro a minha ideia foi visitarmos trechos da história da evolução dos vinhos. Desde os primórdios até os dias atuais em que vinhos são feitos com o uso de técnicas antigas sob a luz da enologia moderna.

Vinhos que tem o seu nicho de mercado ou por manter uma antiga tradição, ou por atuar como a moda, de forma cíclica, trazendo uma antiga tendência que já estava em baixa, para através do marketing criar uma “novidade” com um diferencial em relação ao atual padrão estabelecido de vinificação.

Introdução

Existem indícios que há aproximadamente 7.000AC na região entre o Monte Cáucaso e os Montes Zagros, entre a Geórgia, Armênia e Irã, nasceu o vinho. Os primeiros vinhos do mundo foram brancos. Porque o processo de maceração das cascas para gerar cor só passou a ser compreendido mais tarde, na baixa Idade Média ao longo dos séculos XII e XIII. E muito provavelmente os primeiros vinhos possuíam notas oxidativas, haja vista que na época não dominava-se as técnicas de vinificação e armazenamento de modo a evitar a ação do oxigênio.

Os principais recipientes, tanto para fermentar quanto para armazenar o vinho, foram as talhas e as ânforas ou dolias como chamavam os romanos. Existiam as de pedra e as de barro. Essas últimas por serem mais leves e fáceis de transportar tiveram ampla difusão.

Os primeiros vitivinicultores logo perceberam que o contato com o ar fazia com que a bebida estragasse rapidamente. Como as ânforas de barro permitiam uma grande interação do oxigênio com o vinho, era preciso criar uma forma de vedá-las. Na Geórgia passou-se a utilizar cera de abelha para revestir os kvevri. É como chamam por lá as talhas de barro que ficam enterradas no solo e que tradicionalmente são utilizadas até hoje. Em outros lugares como na Grécia, os vitivinicultores lançaram mão de outras substâncias, as resinas. Eram extraídas do pinheiro, do terebinto e do lentisco.

Os vinhos Retsina

Os Retsina surgiram anteriormente há 2.000AC. Eram vinhos feitos em ânforas de barro untadas com resina de pinheiro para retardar o processo de oxidação e deterioração dos mesmos. Logo, eram impregnados com odores e sabores de resina. Mais tarde no Império Romano o gosto por esses vinhos permaneceu na parte oriental do Império, enquanto que na parte ocidental acabou não tendo muita aceitação.

 

Hoje o vinho Retsina é uma denominação tradicional sem delimitação de uma região específica. Sua identidade tem a ver com o seu modo de produção, podendo ser produzido por toda a Grécia. As regiões de maior importância são Attica ao norte e Peloponeso ao sul. É um vinho branco feito com castas autóctones principalmente Savatiano, Roditis e Assyrtiko adicionando-se a resina de pinheiro ao mosto durante o processo de fermentação. Portanto, de forma controlada, de modo que a resina não tome conta do vinho e esconda completamente outras nuances.

 

Os vinhos de talha

Os vinhos de talha são uma tradição antiga que chegou ao Alentejo em 25AC com a invasão dos romanos e é mantida como tradição na região. A palavra talha deriva do latim “Tinalia” que significa pote de barro de grandes dimensões. Em 11 de novembro é comemorado o dia de São Martinho e no Alentejo nesse dia, os produtores de vinhos de talha abrem as suas talhas. Os vinhos de talha privilegiam o caráter da fruta, sem a interferência da madeira nos sabores.

 

Os vinhos minerais (tanques de cimento)

Os tanques de concreto começaram a substituir as cerâmicas em meados dos anos 1700, uma tradição resgatada por Michel Chapoutier na França em 2001, através dos ovos de concreto, trazida para o Chile pelo enólogo Álvaro Espinoza em 2009 e difundida na Argentina em 2012. Na Argentina os irmãos Matias e Juan Pablo Michellini da Bodega Zorzal e pai e filho Jose Alberto e Sebastián Zuccardi da Familia Zuccardi difundiram muito os vinhos com apelo mineral. Amadurecidos em tanques de concreto ou cimento sem revestimento epóxi. A ideia é produzir vinhos sem o toque da madeira, e o concreto ajuda a evidenciar o caráter da fruta e adiciona sabores minerais. Atualmente a Guaspari no Brasil, está fazendo um Sauvignon Blanc em ovos de concreto.

 

Painel de vinhos

 

Tabela 1

Nome Safra TA % Denominação/Região Produtor Fornecedor
01 Eggo Blanc de Cal 2014 12,2 70% Gualtallary (1450msnm) e 30% Tupungato (1200msnm) Zorzal Grand Cru R$206,10 3,8* 92RP/94GD
02 Tetramythos Retsina NV 12 Retsina Appellation Traditionelle/Peloponeso Tetramythos Decanter R$88,70 +25,56 3,2* 16,5JR
03 Tsántali Retsina NV 11,5 Retsina Appellation Traditionelle/Halkidiki Evangelos Tsántalis Banca Ramon R$119,90+13,09 2,6*
04 Cortes de Cima Amphora 2014 13,5 Alentejo Cortes de Cima Garrafeira Nacional R$247,36 3,8*
05 Tradições Antigas Vinho de Talha 2014 14 Alentejo Paulo Laureano Superadega R$195,80 3,9*
06 Concreto 2016 14 Paraje Altamira (1100msnm) Valle de Uco Zuccardi Vinho BR R$249,90 4,0* 94RP/96GD
07 Eggo Tinto de Tiza 2014 14 Gualtallary e Tupungato Zorzal Vinho BR R$159,90 3,9* 94RP/96GD
08 Mavrodaphne of Patras NV 15 Mavrodaphne of Patras/Peloponeso Cambas Winery Banca Ramon R$149,90+13,09 3,6*

 

Tabela 2

Nome Safra TA % Blend Detalhes
01 Eggo Blanc de Cal 2014 12,2 100% Sauvignon Blanc Vinificado em ovos de concreto, ferment. malolática parcial e 5 meses sur lie.
02 Tetramythos Retsina NV 12 100% Roditis (Vinhas Velhas) 40% é vinificado em ânforas de barro de 250-450L com leveduras selvagens e adição da resina de pinheiros de alepo. Fica 2 meses em contato com as cascas.
03 Tsántali Retsina NV 11,5 Roditis e Savatiano Com a adição de resina de pinheiro. 1-2 partes por mil. No final da fermentação a resina é removida do vinho.
04 Cortes de Cima Amphora 2014 13,5 45% Aragonez, 30% Syrah, 15% Touriga Nacional e 10% Trincadeira Fermentado com técnicas ancestrais em ânforas de barro de boca larga de 600kg, seguido de estágio de 12 meses em ânforas de boca estreita de 150L. O barro é mantido puro, sem revestimento.
05 Tradições Antigas Vinho de Talha 2014 14 Aragonez, Tincadeira, Alfrocheiro, Tinta Grossa e Alicante Bouschet Vinificado como os romanos faziam há 2000 anos em talhas de barro de 1500 a 2300L. Desengace por ripanço. Depois de fermentado afinou em inox por alguns meses.
06 Zuccardi Concreto 2016 14 100% Malbec Fermentado e afinado em tanques de concreto sem revestimento epóxi. 50% do vinho foi fermentado com cachos inteiros.
07 Eggo Tinto de Tiza 2014 14 92% Malbec, 5% C. Franc e 3% C. Sauvignon Fermentado e afinado em ovos de concreto sem revestimento epóxi.
08 Mavrodaphne of Patras NV 15 Mavrodaphne e Korinthiaki Fortificado. 12 meses em carvalho.